Já pensou como é que conseguimos aguentar as fezes e impedir a saída de gases em alturas que não são socialmente indicadas? Como é que conseguimos distinguir se o que precisa de sair pelo ânus são gases ou fezes?
O mecanismo de defecação e de continência é extremamente complexo. De forma simplista, os principais componentes que atuam neste mecanismo são:
Armazenamento das fezes: temos de ter um lugar que permita armazenar os conteúdos que precisam de ser expelidos. O reto corresponde aos últimos 15cm do intestino grosso e tem a capacidade de distender-se para acumular as fezes. Doentes com diminuição da capacidade do reto (como os doentes que tenham sido operados ao reto) normalmente têm vontade de defecar mais vezes por dia e com maior urgência. Estas alterações podem levar a algum grau de incontinência.
Reflexo retoanal e mecanismo de amostragem: a distensão do reto por fezes/gases provoca um reflexo retoanal inibitório que vai levar à contração dos esfíncteres anais interno e externo para impedir a saída de conteúdo fecal. Este conteúdo é apresentado ao canal anal (mas sem ser expelido) que o analisa. Esta informação (gás ou fezes, fezes líquidas ou sólidas) é transmitida ao cérebro para que possamos ter a noção do que necessita de ser expelido. Alterações neste mecanismo (como em mulheres com lacerações do parto ou cirurgias que implicaram a remoção da mucosa do canal anal) pode resultar em incontinência.
Angulação causada pelo musculo puborretalis: este músculo está permanentemente contraído de forma a produzir um ângulo que impede a saída de fezes. Quando pretendemos defecar, este músculo relaxa permitindo a passagem das fezes. Alterações no funcionamento deste músculo são responsáveis por problemas na defecação.
Hemorroides: os esfíncteres anais são responsáveis por cerca de 85% da pressão em repouso do canal anal. Os restantes 15% são fornecidos pelas hemorroides que, por serem "almofadas de vasos", podem expandir-se e selar o ânus. Doentes que tenham sido operados às hemorroides podem apresentar pequenas alterações na capacidade de continência.
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